Duas novas espécies de répteis fósseis do Rio Grande do Sul revelam uma diversidade até ent?o desconhecida

Ambas ampliam nosso conhecimento de um grupo aparentado aos dinossauros e aos crocodilianos que foram encontrados até hoje apenas na América do Sul

Em 1968 pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) encontraram um crânio fossilizado completo de um réptil no sítio paleontológico “Sanga dos Fósseis”, distrito de Pinheiro, município de Candelária. Tal localidade já havia produzido um registro fóssil excepcional, revelando uma fauna extinta de um momento um pouco anterior ? origem dos dinossauros, há aproximadamente 240 milh?es de anos atrás, durante o Período Triássico. A remoç?o dos sedimentos foi difícil e, embora o crânio tenha exposto parte da mandíbula ficou escondida, permanecendo assim durante décadas. 

Nos anos 90, José Dornelles (atualmente professor da Universidade Federal de Pelotas) estudou o crânio e concluiu que poderia ser uma nova espécie do g?nero Chanaresuchus, até ent?o encontrado apenas em rochas triássicas da Argentina. Este g?nero faz parte da linhagem dos proterocampsídeos, um grupo aparentado tanto aos dinossauros (incluindo as aves) quanto aos crocodilianos atuais. Estes animais s?o restritos temporalmente ao Triássico e só foram encontrados em depósitos do Brasil e da Argentina.

 

                Recentemente pesquisadores redescobriram a mandíbula na coleç?o do Museu Irajá Damiani Pinto da UFRGS, a peça que faltava para compreender que se tratava na realidade, de uma nova espécie: Pinheirochampsa rodriguesi. Outros dois outros crânios, coletados na mesma época, também ajudaram a entender melhor as características que a diferencia da espécie argentina, como por exemplo, uma expans?o lateral da ponta do focinho. 

 

“O mais interessante é que meu envolvimento começou, pois encontrei ao acaso na coleç?o da UFRGS, junto com o Dr. Martinelli (MACN), pedaços de uma mandíbula que apresentava uma ligeira expans?o na extremidade, assim como o Dr. Dornelles já havia notado no crânio. Tal expans?o n?o é observada nos fósseis argentinos e para nossa surpresa descobrimos que ela pertencia ? aquele crânio, estando separada dele por quase 5 décadas!” comenta o paleontólogo Voltaire Paes Neto (UNIPAMPA-Harvard), líder do estudo.

 

O foi estudo publicado no fim de Agosto e contou com a participaç?o de diversos especialistas brasileiros da Universidade Federal do Pampa, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto Federal de Educaç?o, Ci?ncia e Tecnologia Catarinense e do Centro de Apoio ? Pesquisa paleontológica da Universidade Federal de Santa Maria; e contou com a participaç?o de especialistas argentinos do Museu Argentino de História Natural Bernardino Rivadavia e da Universidade Nacional de San Juan.

 

O nome é em homenagem ao local onde foi em entrado na década de 60 e ao curador do Museu local da cidade de Candelária, o Carlos Nunes Rodrigues, que muito tem contribuído (junto com Belarmino Stefanello) para o monitoramento dos sítios, curadoria dos fósseis e divulgaç?o da paleontologia. 

 

Com a identificaç?o desta nova espécie, os pesquisadores revisaram uma ultima possível ocorr?ncia de Chanaresuchus no Brasil, um fóssil coletado na cidade de Santa Cruz do Sul, no Sítio Schoenstatt. Esse fóssil faz parte de uma fauna mais recente que aqueles encontrados no Pinheiro, mais ou menos 237 milh?es de anos atrás, e n?o se trata nem de Chanaresuchus nem de Pinheirochampsa. Ainda que apresentasse uma expans?o anterior na mandíbula, esses fóssil era menor e apresenta uma morfologia distinta na porç?o posterior do crânio. Esta e outras características indicam também se tratar de uma nova espécie: Kuruxuchampsa dornellesi, derivado do tupi para a constelaç?o Cruzeiro do Sul e uma homenagem ao Dr. José Dornelles. 

 

Voltaire ainda destaca que estes animais hoje s?o percebidos como animais terrestres, mas que tinham uma relaç?o íntima com os corpos d'agua. Cogitasse que poderiam ser análogos aos animais que forrageiam na interface entre a água e a terra, a procura de peixes, artrópodes ou pequenos tetrápodes que por ventura estivessem por ali - assim como fazem hoje os tuiuiús, os cabeças-secas e as garças. O Pinheirochampsa era um dos maiores e talvez o mais antigo membro do grupo. Seus hábitos alimentares e os de Kuruxuchampsa ainda carecem de estudos, mas as diferenças na porç?o anterior do focinho indicam que o grupo era mais diverso e díspar do que se pensava.

 

“Eles s?o parecidos com dinossauros e crocodilos porque s?o de uma linhagem aparentada a eles. O animal n?o é ancestral do dinossauro, mas era um animal de menor porte que vivia com estes animais. Era um animal que procurava alimentos na beira dos rios, mas n?o eram aquáticos. Eram animais carnívoros, que poderiam chegar até 1,50 metro”, finaliza Dr. Voltaire Paes Neto (Unipampa).    

 

No Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues, em Candelária, podem ser observadas réplicas dos crânios coletados em Pinheiro, além de uma escultura em vida realizada pelo paleoartista Márcio Castro e por Voltaire Paes.

 

Entre outras autoridades, participaram do evento o vice-prefeito de Candelária, Cristiano Becker, o secretário de Turismo, Cultura e Esporte, Flávio Kochenborger, o secretário de Administraç?o, Jorge Mallmann e o vereador Rui Beise.

Compartilhe: ·