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Candelária, 27 de Julho de 2024


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Paleontologia em Candelária
18 de Outubro de 2011

Paleontologia em Candelária

Uma pequena cidade do interior com riquezas pré-históricas. Parece trama de novela, mas, em Candelária, no Vale do Rio Pardo, isso é realidade. Há anos vem se explorando a descoberta de fósseis de dinossauros e demais animais que viveram a bilhões de anos.

         Na última quinta feira, 13, na localidade de Linha Facão, interior de Candelária, uma equipe que é composta por três biólogos e mestrandos em paleontologia, Flavio Pretto, Marcos Salles, Ana Ilha e uma geóloga, Liana Turcatti, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, estiveram retirando o fóssil de um animal pré-histórico que aflorou na beira da estrada.

          Conforme explica Pretto, todos os integrantes da equipe desempenham o mesmo papel durante as escavações, na localização, isolamento e proteção do material e na escavação para retirá-lo, há um revezamento nas funções. O trabalho é ministrado pelo Coordenador Remoto, Cezar Schultz, professor da universidade.

         Os quatro alunos são treinados para desempenhar os procedimentos necessários, através das orientações do professor Schultz. Segundo Pretto, a dinâmica do trabalho seria a visitação as localidades onde pode haver os afloramentos, “aqui em Candelária, nós temos uma situação especial, que é a equipe do Museu Municipal, que tem treinamento para reconhecer material fóssil e dessa forma, muitas vezes eles fazem a prospecção”.

         O paleontólogo ressalta que, a equipe do Museu tem trabalhado na educação aos moradores das localidades onde há possíveis afloramentos, ensinando-os a reconhecer os mesmo, e se caso seja encontrado, que seja acionada a equipe para os procedimentos necessários. “É o único museu no estado que faz a prospecção dos fósseis e que trabalha em conjunto com a equipe de paleontólogos, o que facilitou muito a coleta e a preservação dos fósseis encontrados, não há perda de material, graças a colaboração da equipe do Museu”, afirma Pretto.

         Neste caso, do fóssil que foi encontrado na Linha Facão, foi um exemplo da eficiência e importância da participação do Museu, do trabalho educacional que é desempenhado, pois, foi um morador da localidade, que passava pela estrada que viu o material, que seria os dentes do animal. Logo, o morador, fotografou e encaminhou para o Museu Municipal, que através do Carlos Rodrigues, deu inicio aos primeiros procedimentos, para que não fosse perdido o material.

         Após enviar as fotos do material para a UFRGS, a equipe constatou que realmente se tratava de um fóssil e veio ao município para realizar a extração total, na qual, ainda não foi identificada a espécie. O cientista explica que a única coisa que foi possível identificar, já que o material ainda encontra-se encravado na rocha, é a mandíbula de um dinossauro carnívoro, com cerca de 10 centímetros, com idade estimada entre 220 a 225 milhões de anos, que se aproxima da idade dos dinossauros mais antigos, que são os historicossauros. Possivelmente, seja uma nova espécie, desconhecida da ciência.

         Outra informação que Pretto passou, é de que, na mesma rocha existem fragmentos de outros animais. “Os ossos estão espalhados pelo bloco com tamanho de 80 cm X 40 cm e os mesmo, tem uma discrepância muito grande em relação ao tamanho, as vértebras encontradas são de outros animais, que também não se sabe ainda, se, trata-se de um dinossauro”, pontuou.

         Conforme explica o paleontólogo, o material é muito importante, por que mesmo para as espécies mais antigas que já são conhecidas, a maioria delas consiste em apenas um exemplar e isso ressalta ainda mais a importância do achado. E, pode ser um animal inédito no Brasil ou até mesmo para a ciência, e se for esse o caso, será batizado com um novo nome.

         Além da mandíbula, há ainda, outro osso, que provavelmente seja um fêmur, que também, não se sabe ao certo a qual animal pertence, mas se caso for de um dinossauro, pode ser uma nova espécie, já que, o tamanho da mandíbula e do fêmur não é proporcional para ser do mesmo animal. O cientista explica que essas respostas somente serão sanadas com o estudo das partes encontradas.

         Provavelmente o material encontrado será encaminhado para a universidade para que seja analisado no ambiente controlado de laboratório e após o término do estudo, retornará para o Museu Municipal de Candelária, com o nome e espécie.

         Para que a descoberta deste material seja válida, o mesmo após a análise em laboratório e às conclusões, deve ser publicado em uma revista cientifica de grande circulação, o que demanda tempo, pois, é um processo demorado, podendo levar de dois a três anos, dependendo da quantidade de material.

         O local de origem deve conter condições favoráveis para o armazenamento dos fósseis, no caso do Museu, o local oferece bom ambiente para manter os fósseis protegidos, e já aloja vários materiais que foram analisados. “O papel do museu é muito importante, com as instruções passadas pelo Carlos Rodrigues, que é o Curador Voluntário do Museu e educa a população, para que estejam preparados quando ocorrer uma situação de afloramento”, esclarece Pretto.  

         Rodrigues explica que este trabalho de educação e informação passado aos candelarienses é feito através dos meios de comunicação – jornais e rádios – e, dos lugares onde aflora os fósseis, basicamente 80% foram visitados em Candelária e, “desses lugares, já sabemos onde tem fósseis, de 10 lugares que havia em meados dos anos 2000, agora são 30 lugares”, ressalta o Curador. O museu é quem faz a varredura dos lugares e tem participação fundamental para encontrar os fósseis.

         A probabilidade de encontrar outras partes desse dinossauro é remota, pois, o que se deduz é que ao morrer, o animar ficou exposto no período de decomposição o que fez com que material se espalhasse. “Mesmo que encontremos outras partes que sejam compatíveis com essa mandíbula, teremos que ter muito cuidado para saber o que pertence a quem e não podem ser vinculadas partes que estejam desconexas, pois podem ter dois dinossauros diferentes”, explica Pretto.

         O cientista explica como funciona a dinâmica no momento em que é detectado um fóssil, “O primeiro passo da coleta paleontológica é visitar o afloramento, geralmente as rochas vermelhas são onde se encontram os fósseis, e após é feita uma varredura onde há o afloramento. O limpa com um pincel para tirar toda a terra e protege o material com resina, que mantém o fóssil firme, uma espécie de cola. Na seqüência, expõe com delicadeza e, utilizando ferramentas pequenas e dessa forma, estimar o tamanho do animal para a retirada do bloco, sem danificar. A escavação inicia pelas voltas do bloco com a utilização de talhadeiras, cinzéis, motossera especial, com uma serra circular e após a retirada do bloco, o mesmo é envolto em gesso e uma espuma expansível, para que na retirada, o bloco não se desmanche.

         Esse sedimento, explica Pretto, foi retirado em dois dias, pois, a equipe do Museu já tinha feito os primeiros passos, delimitando o local. Com relação à importância desse achado para a ciência, o cientista explica que “o registro fóssil é muito pontual, dessa forma, cada pequeno fóssil agrega novas informações, mas, particularmente nesse caso, esse material é correspondente ao período de tempo em que surgiu o grupo dos dinossauros, há uma grande chance de ter preservado em Candelária, testemunho dos primeiros dinossauros que andaram sobre a terra”, pontua.

         A introdução do dinossauro nos livros, como eram seus hábitos e sua forma física, são reconstituídos a partir dos fósseis, com sua identificação, descrição de cada detalhe morfológico e comparada com todo o material que existe no mundo. Após, recorre-se a literatura e as fotografias das espécies já existentes e são feitas comparações para chegar a forma do animal e onde ele se encaixa na cadeia dos dinossauros. Se o esqueleto estiver completo, a análise é feita por um anatomista, juntamente com um paleoartísta.

         Conforme o Curador Voluntário, Carlo Rodrigues, é muito importante educar para que a população veja a grandeza do patrimônio fossilífero, tanto para a ciência, quanto para Candelária. “A população valoriza e cuida mais, no momento em que vê o fóssil, mais do que quando apenas toma conhecimento de que foi encontrado”, garante Rodrigues.

         Um exemplo da repercussão paleontológica de Candelária são os fósseis que já foram encontrados do Guaíbassauros, que, já viajaram para vários países para serem estudados por diversos cientistas, e cada vez mais, o município irá atrair estudiosos e turistas em função dos dinossauros, conforme Rodrigues. Nos próximos 3 anos, cerca de cinco espécies novas serão descobertas.









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