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Candelária, 28 de Julho de 2024


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Candelária tem mais um fóssil inédito
06 de Março de 2012

Candelária tem mais um fóssil inédito

No final de ano de 2011, o Museu Municipal de Candelária Aristides Carlos Rodrigues recebeu um presente de Natal inesperado. Trata-se de um crânio fossilizado que ficou guardado em um galpão durante duas décadas e somente em dezembro foi entregue ao Museu. O doador prefere ficar desconhecido.

O crânio é compatível com a biozona de dinodontossauro, que pertence a fauna triássica e habitou a terra há cerca de 230 a 235 milhões de anos, “um animal muito primitivo, com espécime exibindo as expressões dos arcossauriformes (arcossauro basal)”, avalia Carlos Nunes Rodrigues, curador voluntário do museu. Um dos dentes que estão fixados garante se tratar de um animal carnívoro.

Rodrigues aponta outras características do fóssil, “ele tem cristas e depressões pronunciadas e expressões características de osteodermas (placas ósseas sobre a pele)”, por essas características, acredita-se que esteja incluído no grupo dos diapsidos, em razão do número de fenestras, que são buracos onde há inserção de músculos, em que se localizam os olhos e a cavidade nasal.

Alguns cientistas tiveram conhecimento sobre o fóssil antes de sua divulgação, para uma tentativa de identificação do animal, o que ocasionou um alvoroço entre os pesquisadores.

No inicio do ano, pesquisadores da Universidade de São Paulo – USP e da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, vieram à Candelária para conhecer o achado que foi batizado pela equipe de “Papai Noel”, em razão da data de ingresso no museu.

Na semana passada, a diretoria da Malha de Proteção ao Patrimônio Cultural, entidade que, juntamente com a Curadoria cuidam do acervo do Museu, levaram o fóssil para análise laboratorial de paleovertebrados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, para que o cientista e coordenador remoto nos projetos de paleontologia, Cesar Leandro Schultz juntamente com a doutora em arcossauros, Bianca Mastrantonio, analisassem a fim de buscarem um diagnóstico preliminar. Porém, após a comparação com outros animais já descobertos e identificados, este, não coincide com nenhum.

Conforme conta Rodrigues, “depois de três horas de análise e comparações, evidenciou-se tratar de mais um animal desconhecido, inédito, tanto para a ciência quanto para o mundo, lembrando que já é a sexta nova espécie na história do Museu”, ressalta.

O curador ressalta a importância do material, por que mesmo para as espécies mais antigas, que já são conhecidas, a maioria delas consiste em apenas um exemplar e isso ressalta ainda mais a importância do achado.

Um dos pesquisadores, Flavio Pretto explica que a dinâmica do trabalho é a visitação aos afloramentos, o que não foi o caso deste fóssil, “aqui em Candelária, nós temos uma situação especial, que é a equipe do Museu Municipal, que tem treinamento para reconhecer material fóssil e dessa forma, muitas vezes eles fazem a prospecção”.

O paleontólogo explica ainda, “O primeiro passo da coleta paleontológica é visitar o afloramento, geralmente as rochas vermelhas são onde se encontram os fósseis, e após é feita uma varredura onde há o afloramento”. O material é limpo com um pincel para tirar toda a terra e após, protegido com resina, que mantém o fóssil firme, uma espécie de cola. Na seqüência, expõe com delicadeza e, utilizando ferramentas pequenas e dessa forma, estimar o tamanho do animal para a retirada do bloco, sem danificar. A escavação inicia pelas voltas do bloco com a utilização de talhadeiras, cinzéis, motossera especial, com uma serra circular e após a retirada do bloco, o mesmo é envolto em gesso e uma espuma expansível, para que na retirada, o bloco não se desmanche.

A introdução do novo achado nos livros, como era, seus hábitos e sua forma física, são reconstituídos a partir do fóssil, com sua identificação, descrição de cada detalhe morfológico e comparada com todo o material que existe no mundo. Após, recorre-se a literatura e as fotografias das espécies já existentes e são feitas comparações para chegar a forma do animal e onde ele se encaixa na cadeia dos dinossauros. Se o esqueleto estiver completo, a análise é feita por um anatomista, juntamente com um paleoartísta.

 O paleontólogo ressalta que, a equipe do Museu tem trabalhado na educação aos moradores das localidades onde há possíveis afloramentos, ensinando-os a reconhecer os mesmo, e se caso seja encontrado, que seja acionada a equipe para os procedimentos necessários. “É o único museu no estado que faz a prospecção dos fósseis e que trabalha em conjunto com a equipe de paleontólogos, o que facilitou muito a coleta e a preservação dos fósseis encontrados, não há perda de material, graças a colaboração da equipe do Museu”, afirma Pretto.

        O material será encaminhado para a universidade para que seja analisado no ambiente controlado de laboratório e após o término do estudo, retornará para o Museu Municipal de Candelária, com o nome e espécie. Ainda não há previsão para que o fóssil volte para a UFRGS para a análise, pois há outros fósseis encontrados anteriormente que tem prioridade na análise.

         Para que a descoberta deste material seja válida, o mesmo após a análise em laboratório e às conclusões, deve ser publicado em uma revista cientifica de grande circulação, o que demanda tempo, pois, é um processo demorado, podendo levar de dois a três anos, dependendo da quantidade de material.

         O local de origem deve conter condições favoráveis para o armazenamento dos fósseis, no caso do Museu, o local oferece bom ambiente para mantê-los protegidos, e já aloja vários materiais que foram analisados. “O papel do museu é muito importante, com as instruções passadas pelo Carlos Rodrigues, e que educa a população, para que estejam preparados quando ocorrer uma situação de afloramento”, esclarece Pretto.  

         Rodrigues explica que este trabalho de educação e informação passado aos candelarienses é feito através dos meios de comunicação – jornais e rádios – e, dos lugares onde aflora os fósseis, basicamente 80% foram visitados em Candelária e, “desses lugares, já sabemos onde têm fósseis” ressalta. O museu é quem faz a varredura dos lugares e tem participação fundamental para encontrar os fósseis.

                 Conforme o Curador Voluntário, Carlo Rodrigues, é muito importante educar para que a população veja a grandeza do patrimônio fossilífero, tanto para a ciência, quanto para Candelária. “A população valoriza e cuida mais, no momento em que vê o fóssil, mais do que quando apenas toma conhecimento de que foi encontrado”, garante Rodrigues.

         Um exemplo da repercussão paleontológica de Candelária são os fósseis que já foram encontrados do Guaíbassauros, que, já viajaram para vários países para serem estudados por diversos cientistas, e cada vez mais, o município irá atrair estudiosos e turistas em função dos dinossauros, conforme Rodrigues. Nos próximos 3 anos, a previsão é de que cerca de cinco espécies novas serão descobertas.









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